Marcelo Rebelo de Sousa
Jorge Lacão-Sec. Estado da Presidencia do Conselho de Ministros
Elza Pais - presidente da CIG
Carlos Pinto de Abreu, Conceição Brito Lopes, Vanessa Cunha - advogados
Afonso de Albuquerque, António Sampaio, João Redondo- psiquiatras
Manuel Coutinho, Helena Agueda Marujo- psicologos
Maria do Rosário Carneiro, Maria de Belém Roseira; João Oliveira, Helena Lopes da Costa- deputados
Maria Teresa Horta, Inês Pedrosa- escritoras
Clarisse Canha e outros elementos de várias associações e ONG's ligadas ao tema
Sub intendente Luis Elias, divisão de investigação criminal da PSP
Cristina Soeiro, Gabinete de Psicologia e Selecção do Instituto Superior de Polícia Judiciária e Ciências Criminais
Vários elementos das Relações Publicas da GNR
segunda-feira, 9 de junho de 2008
sábado, 7 de junho de 2008
O meu homem sempre me deu tudo....
“… tínhamos duas boas casas, com tudo do melhor. Viajávamos imenso, os miúdos estavam em boas escolas. Oferecia-me muitas jóias, escolheu-me um óptimo carro. Até um barco ele chegou a comprar….
O meu homem dava-me tudo. Mesmo tudo…. Mas sobretudo dava-me porrada.
Eu lá ia disfarçando as marcas negras com maquilhagem mas as feridas da alma, essas, não se cobrem com pós. O meu tormento durou 29 anos. Tive dois filhos com aquele homem- dois filhos que ele nunca respeitou. Aliás, na segunda gravidez ele deu-me imensas tareias e atirava-me frequentemente ao chão. Quando olho para trás pergunto como é que fui capaz de aguentar aquilo… eu não queria dar o braço a torcer, não queria voltar para casa dos meus pais e assumir o falhanço do meu casamento. E, afinal, quem iria acreditar que ele era assim ? Fora de casa era amoroso, simpático, dava-se com toda a gente… o mais certo era pensarem que eu andava a fazer alguma para o tirar do sério… Mas um dia decidi que já chegava; saí de casa para levar os miúdos à escola e já não voltei. Saí do meu palácio –prisão e fui dormir para um quartinho alugado em Odivelas. Comecei a tratar do divórcio e foi aí que ele me procurou e ameaçou com uma pistola. Não sei onde fui buscar a coragem mas olhei-o nos olhos e disse-lhe que ele já me tinha feito tanto mal que não era uma pistola que me metia medo. Disse-lhe que sempre o considerara um cobarde por tudo o que ele me tinha feito ao longo dos anos. Podia ter morrido ali; mas acho que o meu olhar , a minha voz e a minha atitude afirmavam a minha convicção: eu estava decidida a mudar. ”
Maria, 51 anos, Lisboa
Ouvir Maria falar sobre os 29 anos que passou ao lado deste homem é, só por si, uma tortura. Os momentos que vai conhecer, foram todos vividos, sofridos, escondidos. Alguns testemunhados. Muitas vezes pelos filhos; que também os sentiram na pele e na alma.
São relatos de violência doméstica feitos por esta Maria.
Por outras Marias.
A Maria que tem dinheiro e a Maria que não tem; a Maria que trabalha na fábrica ou na lota mas também a que é contabilista, designer ou socióloga; a que foi à escola e a que sempre viu o pai bater na mãe…
Chamar “Maria” a todas as mulheres cujos depoimentos recolhemos tem um propósito: estão em pé de igualdade perante uma situação que lhes viola direitos básicos consagrados na Constituição Portuguesa, defendidos pela legislação nacional.
Estas mulheres são vítimas de violência. Fora e dentro de casa.
O fenómeno em si está claramente identificado e é ( ou pelo menos devia ser) reprovado socialmente.
No entanto permanece. A violência é desvalorizada. A primeira chapada é sempre sem querer. Mas repete-se. Geração após geração. De Maria em Maria.
O meu homem dava-me tudo. Mesmo tudo…. Mas sobretudo dava-me porrada.
Eu lá ia disfarçando as marcas negras com maquilhagem mas as feridas da alma, essas, não se cobrem com pós. O meu tormento durou 29 anos. Tive dois filhos com aquele homem- dois filhos que ele nunca respeitou. Aliás, na segunda gravidez ele deu-me imensas tareias e atirava-me frequentemente ao chão. Quando olho para trás pergunto como é que fui capaz de aguentar aquilo… eu não queria dar o braço a torcer, não queria voltar para casa dos meus pais e assumir o falhanço do meu casamento. E, afinal, quem iria acreditar que ele era assim ? Fora de casa era amoroso, simpático, dava-se com toda a gente… o mais certo era pensarem que eu andava a fazer alguma para o tirar do sério… Mas um dia decidi que já chegava; saí de casa para levar os miúdos à escola e já não voltei. Saí do meu palácio –prisão e fui dormir para um quartinho alugado em Odivelas. Comecei a tratar do divórcio e foi aí que ele me procurou e ameaçou com uma pistola. Não sei onde fui buscar a coragem mas olhei-o nos olhos e disse-lhe que ele já me tinha feito tanto mal que não era uma pistola que me metia medo. Disse-lhe que sempre o considerara um cobarde por tudo o que ele me tinha feito ao longo dos anos. Podia ter morrido ali; mas acho que o meu olhar , a minha voz e a minha atitude afirmavam a minha convicção: eu estava decidida a mudar. ”
Maria, 51 anos, Lisboa
Ouvir Maria falar sobre os 29 anos que passou ao lado deste homem é, só por si, uma tortura. Os momentos que vai conhecer, foram todos vividos, sofridos, escondidos. Alguns testemunhados. Muitas vezes pelos filhos; que também os sentiram na pele e na alma.
São relatos de violência doméstica feitos por esta Maria.
Por outras Marias.
A Maria que tem dinheiro e a Maria que não tem; a Maria que trabalha na fábrica ou na lota mas também a que é contabilista, designer ou socióloga; a que foi à escola e a que sempre viu o pai bater na mãe…
Chamar “Maria” a todas as mulheres cujos depoimentos recolhemos tem um propósito: estão em pé de igualdade perante uma situação que lhes viola direitos básicos consagrados na Constituição Portuguesa, defendidos pela legislação nacional.
Estas mulheres são vítimas de violência. Fora e dentro de casa.
O fenómeno em si está claramente identificado e é ( ou pelo menos devia ser) reprovado socialmente.
No entanto permanece. A violência é desvalorizada. A primeira chapada é sempre sem querer. Mas repete-se. Geração após geração. De Maria em Maria.
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